Sem nós

Sem nós
O que me prende a ti não são laços. Talvez, nós.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Apenas um quadro

Há tempos não me sinto assim...
Um certo ar de quietude,
uma calma branca,
coisas estranhas a mim.
Mas tenho gostado
de cavalgar,
de retomar as rédeas.
O universo é o mesmo.
Posso fazer escolhas...
ou ficar encostada
em uma parede branca,
moldura,
recortes de mim.
Mas não nasci para ser um quadro.
Minhas cicatrizes são luzes,
pequenas fagulhas
onde me deixo refletir,
me espalho,
me deixo ir.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Escolha?

Lá vai novembro
e acho que nada fiz.
Tão pouca entrega
e grandes expectativas.
Vivo no extremo
do que posso chamar
de medíocre.
Não peço nada,
comemoro o pouco
que ganho...
Minha vida aqui
minha alma ali.
Intersetorialidade.
Integração.
Grupo de trabalho.
Afinar o discurso.
Comissão, discussão,
debates, seminários
etc etc etc.
E tudo começa aos 17 ou 18...
exatas ou humanas?
Hã?
Também nem sei
se ainda é assim.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Eu não sei...

Apenas um beijo.
Foi tudo que pedi.
Já tinha tantas coisas
até o seu mais íntimo medo.
Compartilhei dores,
suores, terrores...
Dormi tão nua em seus braços,
chorei em seu colo
e você no meu.
Tomei sua sopa,
provei seu remédio,
amargo...
Sei, também,
que me lambuzei de doces,
andei feliz na chuva,
conheci seus lugares,
seus caminhos mais bonitos.
Suas canções.
Pouco dormi.
Em todo esse tempo
não pensei em mim.
Ou só pensei em mim.
Difícil explicar...
Mais ainda... entender...
Então...
por que não
um beijo?
Por que?

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Simbiose

São dois lados
que vestem nossa face.
Fremente forma
de ver o mundo.
Máscaras que ornamentam
o que aprendemos a compor.
Trêmula energia que tanto irradia
a intimidade do ser.
Complementos, descompassos,
opostos que se procuram.
Reflexo do que projeto,
avesso do que transpiro.
Estranha forma de ver o belo
em riscos primitivos
e tão próximos
do que realmente somos.

Gil, pra você.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Como um vento

Noite que acalma
desfaz as dores.
Lentamente,
sossega o peito
como um vento
que passa,
levanta poeira
e se desvanece
em qualquer curva.
Somos assim
e não estamos tão sós.
É fácil de entender
quando ouvimos,
de perto,
a respiração do outro
e nosso coração
bater mais forte.

sábado, 5 de junho de 2010

Anatomia

Somos uma estrada.
Para outros ou nós mesmos.
Apenas uma passagem.
Mas não precisamos de troco
ou de lugares vazios.
Neste mundo sideral
as veias são as pontes
as cordas vocais
o verbo.
Traçamos em músculos
os caminhos certos.
Em nervos, os incertos.
Estranho modo
de estudar o corpo humano.
Ou apenas um certo modo
de expressar o novo.

sábado, 29 de maio de 2010

Palco

Como explicar
quando alguém se vai
porque quis?
Simplesmente, decidiu.
E foi.
E aqui ficamos nós...
Alguém decidiu decidir!
Entender,
procurar as razões,
desatar os nós.
Não é bem assim...
Quando alguém resolve
interferir no destino
não sabemos mais
se foi mesmo o destino
ou descompasso,
desatino.
O artista principal
fechou as cortinas
com as próprias mãos.
E no meio do show.
Simplesmente, fim.

sábado, 8 de maio de 2010

Mea culpa

Mãe, ontem sonhei com você. De rabo de cavalo, com livros embaixo do braço. Uma linda colegial. Você sempre foi linda mesmo. Nos esbarramos, pedi desculpas, você não me reconheceu. Queria lhe dizer que era sua filha. Mas você estava tão feliz!!!! Naquele momento, achei que eu é que tinha partido. E deixei você ir.... Fiquei olhando... aquela moça tão cheia de si.... pronta a aprender mais. Entendi que não podia parar o seu seguir. E voltei... acordei e vi que a vida prossegue sim. Mas nada me impede de dizer que preferia que você estivesse aqui. Egoísmo? Falta de fé? Não sei...Tantas alfinetadas, briguinhas bestas. E, eu, hoje aqui. Difícil ser mãe. Deve ser mais fácil ser avó. Que belíssima pessoa você foi. Desculpa por não ter tido coragem para aplaudir sua coragem.

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sexta-feira, 30 de abril de 2010

Em tempo

Paixões surgem
fora de época.
Em um carnaval em novembro,
nas férias de abril
ou entre corações
já de outros.
Sem tempo certo
o querer rasga a pele
provoca tufões.
Capricho da natureza
que penetra em compartimentos
sem carimbo de aprovação.

Não é preciso ser assim...

Do equilíbrio das formas
surge novas possibilidades
perdidas no turbilhão de imagens
sem foco.
Desvenda-se devagar
o destino
no significado
das cores
de um caleidoscópio
em mãos infantis.
Se vestimos capas de adultos
é a força das circunstâncias
já que a verdadeira alma
passeia brejeira
em lugares
onde tudo é novidade.
Essa alma prefere vestidos floridos
ou calças curtas
e sorrisos inocentes.
Mas vive aprisionada
no velho e antigo
porão das nossas
mágoas.

terça-feira, 20 de abril de 2010

Bela adormecida

A estrada que escolhemos
não tem desvio ou retorno
cercada de abismos e mata
longa e sinuosa
onde poucos
querem passar.
Mas os loucos e poetas
são ousados o bastante
e se entregam a desafios
se aventuram
porque sempre sabem
o que vão encontrar.
Loucos e poetas
nunca se enganam
porque vivem a certeza
e fazem dela um objetivo
seja ser Napoleão
ou acordar com um beijo
alguém que dorme há cem anos.

Resgate em cristal

Da noite,
apenas vestígios de nós dois.
Restos no prato e na cama
migalhas e almofadas
pelo chão.
A urgência da febre
não tem analgésicos.
As mantas que cobrem meu corpo
sãos as mesmas que usamos
juntos.
E, agora, minha pele arde
sozinha.
Triste momento
que o destino
escreveu.
Não resta mais nada
a não ser a entrega
a pensamentos hostis,
arrepios pelo corpo,
nervos estilhaçados
e fibras esticadas ao limite.
Mas não sou de entregar os pontos
me recosturo inteira
com os mais finos acabamentos.
Enquanto você espera
me ver em frangalhos
apareço com a mais fina das vestes.
Feitas de cristal.
Presentes dados
pela mãe terra
tirados do mais profundo
leito
do Planalto Central.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Para alguém que nunca vai ler

Vem... vem pro meu colo
te sossego, menino
lhe dou o meu sono,
meus devaneios....
minha energia!
Vem... vem pro meu colo
te embalo, menino
aquieto seus rompantes
suas inquietações
suas pontes....
estas não...que elas possam levá-lo
a lugares desconhecidos
novos e plenos
de exclamações, pontos e interjeições.
Meu colo é seu...
minhas loucuras são suas.
Meu hoje é a areia da praia
a chuva da calçada
o encontro em bancos altos
a explosão.
Num quarto mágico
o mais incrível que já vi
entre luzes e toques
por um momento
somos deuses.
Entre o plano e os morros
não sei mais onde nasci
talvez
entre seus braços.

Em cena

São tantos os anseios
estancados por não haver permissão
para ser o que somos,
mostrar apenas o que temos
nada mais do que isso.
Simples e complexo.
Jogar-se e reter o sonho.
Tantas escolhas
confusas, difusas.
Emaranhados de palavras
que teimam em rodear
a verdade do que somos.
A vontade de entregar
o tudo em apenas duas mãos.
Nada fácil se devassar.
Mais confortável é vestir personagens,
confundir a platéia
e deixar pra quem tem alma de artista
vasculhar o que está profundamente
atado ao peitoc
om um imenso medo
de explodir.

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Sem juízo


Se os olhos queimam

Deixe jorrar a água

para lavar as cinzas

que os encobrem.

E sinta as gotas mornas

deslizando em seu pescoço

como mãos apaixonadas

que querem conhecer

todos os recortes.

Por um momento

perca mesmo o juízo

esvazie o peito e deixe fluir

o tudo guardado.

Ninguém poderá entulhar seus depósitos

com quinquilharias

ou destroços.

Você foi talhado

seguindo seu próprio molde

e quem quiser gostar

que goste.

sexta-feira, 19 de março de 2010

Ser ou não ser

Onde está a verdade?
O que é a verdade?
É o que se espreme
o que se vomita
o fremente...
O resto do frangalho
a sobra do tosco
o sopro do resistente
a última bolacha do pacote.
O atrevido...
o fim do açoite...
a ponte....
o outro lado.
A verdade
é o que eu digo.
É o que eu escuto....
Talvez o outro lado.
O destino,
o estandarte,
o divino
ou o embate.

sexta-feira, 5 de março de 2010

Luto

Não sei muito bem
o que acontece
mas sempre rio compulsivamente
depois que escrevo.
Talvez seja uma espécie
de catarse
Essas crises, acho eu,
mostram o desespero
que a gente tem
frente a situações
impossíveis de lidar
no momento.
Lembro bem da minha irmã,
rindo, em plena pista do aeroporto de Brasília,
quando o corpo do nosso irmão
chegou.
Traslado...
lá da Inglaterra...
"O presunto é importado",
disse alguém.
Sentada na escada,
no setor de cargas do terminal,
a frase me acordou.
Pulei como mola,
esmurrei as portas
de acesso à pista.
Quis entrar a força
no lugar proibido.
E meus gritos detonaram
as gargalhadas da minha irmã.
É...
Somos mesmo
Involuntariamente
sensíveis.
Estupidamente
controversos.
Maravilhosamente
complexos.

Elefantes

Amores são assim
chegam, partem, se escondem
sem pena dos vizinhos...
Esses, coitados, lidam com
humores instáveis
por todo um contrato.
Bem, quem estiver incomodado,
que se mude.
São passos na noite,
madrugadas de soluços,
nariz escorrendo
no final da tarde...
O por do sol não é mesmo lindo?
Mas quem, afinal,
nunca escondeu
uma tromba d´água
debaixo das pálpebras?
Hum... talvez os elefantes...

quinta-feira, 4 de março de 2010

Sob a roseira

Comprei as caixas mais belas
de madeira e fitas de cetim
pra guardar como um talismã
suas mais intensas palavras.
Ali, elas são só minhas
mesmo que pertençam
ao universo, a
várias musas
de diferentes perfis.
Nada disso me importa.
Sou fremente em meus desejos
e o que imagino sempre se materializa.
Sou uma espécie de bruxa
que cultiva seus encantos
e pratica seus feitiços.
Todos em nome do amor.
Nada do que faço
me condena
por ser arroubos de mulher
que em rituais de lua cheia
enterra seu nome
aos pés da roseira.

quarta-feira, 3 de março de 2010

Entrega

As mais doces maçãs
vermelhas, brilhantes
guardei em cestas de prata
no centro da mesa
pra acariciar sua boca.
Espalhei meu perfume
no tapete,
nas cortinas da sala
como gotas de mim
pra saciar o seu corpo.
Escrevi palavras
nas paredes
Iluminadas por um facho de luz,
como num palco,
pra saciar sua alma.
Indícios, senhas,
sinais de fumaça
que teimo
em deixar todo dia
pra saciar sua fome.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Latente

Cálido abraço
que me envolve toda
e me seca a boca
querendo mais
além do morno acaso
das roupas ao vento,
do deixa chegar.
Carrego nas veias
denso caldo vermelho,
pulsante
que lateja nas têmporas
como pequenas agulhas
eternamente instigantes,
que nunca me deixam
dormir em paz.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Sem pauta

Não me restrinjo
a históricos,
caracteres
ou tópicos.
Apenas sigo
a pena
que leve se solta de mim.
E o que flui
é o fundo,
o todo,
o que cavo
em mim.