Sem nós

Sem nós
O que me prende a ti não são laços. Talvez, nós.

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Aos meus filhos

Hoje, confesso, tive um ataque de ciúmes. Não do tipo passional. Mas do tipo completamente emocional. Por um momento, cercada de filhos, fiquei extremamente, digamos, com uma puta dor de cotovelo. Ok. Engoli em seco, fui pra casa, tirei meia hora de sono, não-tranquilo. Acordei, abracei minhas gatas e pensei: é... sou uma péssima mãe. Danou-se. E eu, que me sentia the best pela manhã, desisti dos meu planos de diversão pra noite. Acordei no meio da tarde, limpei a caixa de areia de Flora e Nina e liguei a tv. Pensei. Ana, porra, você não pode chorar. Sabe o que acontece, mulher. São cinco dias de cara, digamos, escrota. Engoli em seco, fiz meu queijo quente com suco de uva ( orgânico), me acomodei nas almofadas. Nina e Flora, com as antenas ligadas, captaram: a mulher não está normal. Foram para o outro quarto. Verdade. Instinto é foda. Caralho, não posso ficar assim. Vou apurar ( pensamento de todo jornalista que nasceu jornalista). Liguei, desabafei. Um dos meus filhos falou: está com ciuminho é? Mas a gente está sempre com você, mãe. Não fique assim! E explicou tudo com a mais pura lógica. E eu, engolindo o choro, entendendo tudo, me sentindo uma tola-louca, ri. Em poucos segundos, me senti a mais feliz das mães e orgulhosa de sentir que não há caminho mais real do que ser a gente mesmo.

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Filtro dos Sonhos

Não pendure
meu coração na janela.
Ele não é mais seu.
Já cansou.
Não quer mais
ficar, assim, jogado ao vento,
como a roupa velha
que seca no varal.
Meu bem,
acorde,
desta vez não lhe dei, apenas,
um filtro dos sonhos.

Que eu durma feliz

Se acordei agora
pouco importa.
Amasso mesmo
a cara
no travesseiro.
Já se foi o tempo
que investi em
máscaras de pepino,
hortelã, tomate, alecrim,
mel e centeio.
Nossa,
são rugas a mais?
Quem disse?
Chineses ou japoneses?
Meu bem,
eu quero é dormir feliz.
De bruços, de lado,
com alguém,
sem ninguém.
De qualquer jeito.

Sem bagagem

Meu amor,
sinto tanto...
Mas não há mais caminho.
Deixe lá fora
tudo que carregou.
Venha,
traga a bagagem de mão
e entre sozinho.

Nua

Tenho um medo absurdo
de morrer sozinha,
caída
na cozinha.
Ou tentando abrir
a porta da rua,
do banheiro.
Como minha tia,
minha mãe,
minha avó.
E me vejo
ainda aqui,
culpada.
Com todo meu cansaço
carrego um fino elo.
O seu abraço.
Não, eu não nasci
sem fim.
Sou alguém
pendurado ao seu pescoço.
Moço,
se eu morrer de amor,
me deixe aqui.
Perto
da porta da rua,
da cozinha,
da imensidão da lua.
Tão nua.

sábado, 24 de agosto de 2013

Acorda, Lampião!

Por momentos
me derreter.
Manteiga de garrafa.
Ser livre
da sina
dos que me querem
sempre
Maria Bonita.
Guerreira.
Acorda, Lampião.
Tudo que quero
é café com pão.

Tão só

Para ser feliz
é preciso abrir mão.
Deixar.
Despir-se de esperas.
Seguir, calado, assim,
cálido entardecer.
Ser menos infeliz
requer recursos.
Pagar remédios, analistas.
Gritar,
invadir espaços
endurecer.
A liberdade
chama tão baixinho
como um afagar
de cabelos.
Gestos que fazem
alguém ir.
Sozinho.

domingo, 14 de julho de 2013

Eu me rendo

Há tempos 
não via seu rosto.
Mesmo assim, 
encolhi minhas asas. 
Humildemente,
me rendi. 
E é claro, 
seu falo cruzou minhas pontes, 
chupou os meus montes,
lambeu pedaços 
deixados por mim. 
Sou fonte, bagaço, caroço. 
Um traço, início, amasso.
Seu passo, meu fim.

sexta-feira, 12 de julho de 2013

Teu

Quando suas mãos
algum dia
pentearem meus cabelos,
não diga nada.
Apenas encaixe
seu corpo no meu.
Diga adeus,
até breve,
eu sou teu.


sexta-feira, 5 de julho de 2013

De tão longe

Você acha tão fácil manipular
que até desaprendeu.
Alguns, meu caro,
são intransponíveis
e se torna impossível, até,
mandar flores.
Fala sério.
Compor um fado,
dançar um tango argentino
é nostalgia?
Vai, prepara um prato,
estende a toalha xadrez
e, quem sabe, consiga
um sorriso de lado.
Estou perdida na noite,
entre colcheias,
cavalgo.
Fiquei tão longe,
agora,
que me perdi.
Você nunca
me fez mar,
muito menos
terra ou sonho.
Porque não quis.
O mais triste,
nem tentou.
Quem sabe
a gente não teve
uma chance.
Seu tonto.






sexta-feira, 28 de junho de 2013

Noturno

Deitei
e me cobri
de partituras.
Acordei, assim,
engasgada em som,
debruçada em letras
rascunhadas pela noite.
E me sinto
protegida
por uma espécie
de anjo-poeta
que encosta toda noite
suas asas
em mim.

Mariposa

Sou mariposa
em busca de luz.
Este é meu caminho.
Sigo o brilho
que atrai o meu corpo.
Quando o encontro
traço uma espécie
de ritual.
Todo meu.
Sou inseto,
bruxa,
borboleta.
Voando em círculos
entrego minha alma.
E nada mais
importa.
Escolhi, meu bem,
o meu fim.

sábado, 22 de junho de 2013

Assombro

Seu descaso
não vai
engolir
meu querer.
Minha falta de jeito
me fez refém
e você saiu, assim,
incólume.
Estou aqui
e declaro
seu desamor.
O que me faz
levantar o queixo
é  puro medo.
Não se iluda.
Não sou
tão forte assim.
Engulo em seco
toda vez
que dobro a esquina
e vejo
minha sombra
na parede.
E me assombro
com o mundo
que se abre
tão perto de mim.

sexta-feira, 21 de junho de 2013

Tão longe

O que me arrasta
em semi colcheias
é  puro enfado.
O resistir.
Triste fardo, persistir.
E ninguém uniu as fontes.
Mundo sem liga,
sem interfones.
Batendo a porta,
sem ser ninguém,
sou mero insone,
um ser errante
longe de ti.

Jogo

Se nunca pedi
fidelidade,
o que é que houve?
O que é que há?
Sou pé no chão, esqueceu?
Me descarte em qualquer curva.
Pra quem duvidar,
nada aconteceu.
Você deu as cartas.
Por pura sorte
o azar é seu.

sábado, 15 de junho de 2013

Blues

Se a vontade
fosse soberana
estaria em seu colo,
ouvindo um blues
e tudo o mais
que você quisesse
dizer.
Blues é alma.
É volta pra casa.
Alma plena.
A vida é curta,
densa
como a noite
ou o sol.
Questão de escolha.

Palpitações

Quando me chamares
que seja por inteiro
com portas e janelas
escancaradas.
A mala há muito está pronta
encostada
na parede da sala.
Vivo como se
a qualquer  momento
fosse entregar
minha alma
a um forasteiro. 

Sou cor

Perguntou
sobre amores,
passado, dores.
E menti.
Menti, apenas,
por dispensar
seus favores,
seu interesse forçado.
Amanheci
remoendo as entranhas,
sua ânsia em se fazer
de normal,
o faz um ator banal.
Você me conhece
tão pouco
que dei o troco.
Fiquei sem ar
mas sobrevivi.
Mesmo
repartindo
minhas cores.

Cativeiro

Nosso silêncio
ecoa em grutas
e abismos.
Estranhos motivos
nos fazem manter
o coração
em abrigo eterno.
Como um animal
em extinção
jogado em cativeiro
para garantir
a continuação
da espécie. 

sexta-feira, 14 de junho de 2013

Palavras

Palavras são teias
invisíveis,
emaranhado de energias
que muitas vezes
nos tiram o fôlego
e embolam a garganta.
Nos fazem
engolir em seco.
Palavras
podem doer tanto
como corte de papel.
Parece incrível,
mas lateja
uma noite inteira.
Palavras podem ser
traiçoeiras, cortantes.
Mas quero, apenas,
as poéticas.
Vou saboreá-las
como um bom vinho
ou me desnudando
sob a lua
que move as marés.
Palavras
são tão frementes
que fisgam a alma.
Envolvem,
atiçam o corpo inteiro
como farpa no pé.

Prazo de validade

Não quero as suas mentiras
misturadas ao vinho
que transborda de taças.
Quebre a sua
e me deixe brindar sozinha
ao que nunca fomos.
Nunca lhe pedi garantias
e nem acredito
em elos arquitetados.
Tenho olhos transparentes
para transpassar pensamentos
e descobrir o forjado.
Por isso mesmo lhe digo
nosso prazo de validade
acaba de expirar. 

quarta-feira, 29 de maio de 2013

Fim de festa

Sei que invadi sua sala,
deitei no sofá
e ali fiquei.
Fui ardilosa
em argumentos.
Meti os pés pelas mãos.
Eu bem sei.
Apenas me defendi.
Mas sei...
acabou a festa.
E nada pedi.
Apenas quis levar
meus argumentos.
Mas, lamento,
se você entendeu o que quis,
boa sorte, aprendiz.
Não há mais volta.

sábado, 25 de maio de 2013

Ser feliz

Se a gente juntasse
aqueles segundos
em que somos felizes,
talvez,
quem sabe
desse um ano.
Não sei.
Mas um ser humano
ser pleno assim
em 365 dias,
sobreviveria?
Confesso,
não sei.
Eu, com certeza,
morreria.
Feliz.

sexta-feira, 24 de maio de 2013

Recomeço

Desatou aos poucos
os laços
e o sentiu deslizar
em suas costas.
Puro veludo azul.
Com dois grampos,
prendeu os cabelos.
Queria sentir o vento
na nuca.
Sempre fazia isso
quando menina
e pulava corda
na porta da escola.
Desvencilhou-se do vestido
emaranhado em seus pés.
Pensou em guardá-lo
mas o deixou ali,
no tapete do quarto.
Afinal, era mais uma noite
sem visitas.
Suspirou.
Do outro lado da rua,
ele a viu.
Encostou-se à parede
do quarto.
Olhos jogados na janela.
Nem sentia mais frio.
Sem querer, prendeu o ar.
Nossa...
há tempos
não via ninguém assim.
Tão trajada de nudez.
Levou as mãos ao rosto.
Por entre as cortinas,
ela suspirou,
derreteu-se em lençóis
e se pintou de azul.
Na noite sem estrelas,
a moça da janela,
finalmente,
dormiu.
Do outro lado da rua,
encostado à parede,
ele só pensava
em se barbear pela manhã.
Apagou a luz,
se vestiu de cor
e sorriu.

segunda-feira, 15 de abril de 2013

Forca

Engano seu.
Não preciso de amor.
Nem sei bem
o que é isso.
Amor pra mim
não é conta-corrente,
pacto, negociação.
Amor é multidão
de sentidos,
seus laços, seu traço,
seu todo feliz.
Que apenas amo.
Mas, é triste a minha sina.
É que seu amor é tão seu
que até doi.
Seu amor, realmente, não é meu.
E, eu, em camisa de força,
com o pé na forca,
ainda tenho vontade
de sussurrar
o seu nome.

Seu amor

Nunca pude ser
o seu girassol.
Sei que
seu centro
é este músculo
perfeito, extenso,
denso e cálido.
O teu coração
é uma flor
coberta de cores,
um certo ar adocicado,
e até mesmo traiçoeiro.
E eu? O que sou?
Pra você,
talvez,
o por do sol,
o instigante,
o adeus,
o passo errante.
Mas, acho,
que nunca,
o seu amor.

domingo, 14 de abril de 2013

Fim

Agora sei.
Seu umbigo é o mundo.
Pelo menos
é isso que você acha.
Imagina, então,
como você enxerga o meu.
Também pouco importa.
Antes, até o seu cigarro
eu achava bonito.
Que desilusão rasgada.
Não conheço mais os seus olhos
e eles nem têm tanto brilho.
Dos pedaços de sonhos
que você recolhia na praia
sobraram as esculturas
amontoadas na garagem.
E nem adianta dizer
que é meu astrólogo particular.
Suas luas de lata
e estrelas de gravetos
devolvo neste momento.
Moro, agora, em outra galáxia.
que nem sei dimensionar
o tanto que é longe da sua.

domingo, 31 de março de 2013

Tira-gosto

Seu coração
combina tanto
com o meu
que nem consigo respirar.
Pra ser sincera
tira-gosto
não me satisfaz.
Quero ardor,
prazer,
esquinas
e muito mais.
Me diz,
o que você quer de mim?

sábado, 30 de março de 2013

Entre cortinas

Sim, perco a compostura
quando me torno,
assim, meio alguém.
De olhos embaçados,
banhados em cor.
Na boca,
um certo ar
de improviso
e pouco som.
Mas sou eu,
parte gigante
e tão pequenina.
Que pena,
investi no tempo.
Pensei que,
sendo quem
você sonhava,
seria feliz.
Acordei,
entre cortinas.
Perdi a mim,
menina.

quinta-feira, 28 de março de 2013

A primeira vez que vi Brasília

Não te escolhi Brasília.
Mas a primeira vez que te vi
um sol esplendoroso,
vermelho-paixão,
invadiu meu olho.
E foi assim, que vi Brasília.
Acordei, um colchão no chão.
E meu coração
mergulhou em outras
alquimias.
Deixei conchas,
algas, areia,
pés no mar.
Amanheci
corpo e alma
entre o vento,
o novo, o silêncio.
Só você, Brasília,
pra me mostrar que alma
é flor.
Perfeita na forma.
Pronta pra ser semente.
Fremente no amor.

quarta-feira, 27 de março de 2013

Sintonia

Seus olhos transpassam
os meus
como traços de menino
que desenha sóis.
Seus olhos refletem
as dores dos meus.
Compassos, sintonia,
a música que não toquei.
Quem escreve a sinfonia,
os versos, o compasso,
seus olhos
ou os meus?

domingo, 24 de março de 2013

Instinto

Por momentos
te quero aqui.
Quem sabe,
em cinco minutos,
você me invada.
Mas já te aviso,
não sou licor,
não sou doce.
Carrego algo de errante,
acidez,
um azedume.
E, mesmo assim,
me torno carmim
pura boca.
Meu corpo,
pedaços de cetim.
Sou assim.
Pra você, nunca menti.

sábado, 16 de março de 2013

Meio assim

domingo, 17 de fevereiro de 2013

Confesso, sim, menti.
Por me ver sem cor,
sem caminho.
Menti por estar sozinha.
Menti por estar tão minha.
Mereço ser sem eira nem beira.
Sem destino.
E o que mais me deixa assim
é este nó no peito.
Freio.
Semi colcheia, clave de sol.
Meio termo,
ao meio, ermo.
Só.

sábado, 16 de fevereiro de 2013

Aqui

Se você pensa
que é feito de passado,
mero engano.
Seguimos como algo
suspenso...
balão de gás.
Trepadeiras, mar,
esteira.
Um cheiro qualquer.
Ar puro, flores.
Um qualquer ser inteiro.
Aveia, centeio.
Pão, cor, recheio.
Onda que envolve a boca,
toda cheia de flor.
Meu barco, meu remo, meu amor.