Sem nós

Sem nós
O que me prende a ti não são laços. Talvez, nós.

domingo, 20 de abril de 2014

Amo o cerrado
Brasília, minha cidade do coração, você é tão querida que resolvi até dar um tempo na nossa relação. Vamos namorar um pouco? Você daí e, eu, daqui. Sei, menina, às vezes, a saudade aperta. Mas vamos combinar. Por acaso deixei por aí minhas dores, rancores, tristezas? Não, cidade linda. Você ficou com a minha melhor parte. Filhos-candangos. Quer prova maior de amor? Total confiança no futuro, amiga! Hoje, me descobri mais feliz por lembrar que, um certo dia, lá pelos anos 70, acordei com um sol vermelho na minha cara. Incrível. Bonito pra caralho!!! De manhãzinha, deitada no colchão no chão do meu quarto, na 202 Sul, vi você, puro cerrado, nua, tão linda que amoleci. Paixão. Eterna. Vem cá, Brasília, posso sentar um pouco no seu colo? Só hoje, vai? Quero dizer bem baixinho. Pra você. Sou alguém feliz só por ter adolescido aí. Mas, que fique aqui registrado. Mesmo de longe, cuido de você. Meu chão. Talvez, volte. Talvez, não. É. Amores.

sábado, 22 de março de 2014

Rotas

Acordar em Macapá,
Brasília, Rio ou Londres
não vai mudar
a rota dos ventos.
Ser é simples.
Não se escolhe as pontes.
A imensidão da vida
é só horizonte.
E esta especie de fonte
quem escolhe sou eu.
Ou você.
Talvez, nós.
Ressabiados,
como presentes
mal escolhidos
em um amigo-oculto
na mesa de bar.

domingo, 16 de fevereiro de 2014

Aos poetas

Correr riscos.
Esse é o eterno
caminhar de um poeta
quando entrega o coração
a sua escolhida.
Faz dela
o universo.
Um poeta sabe viver
por ter um coração pleno
onde não há mais espaço mais
pra tanta avidez.
Mas nosso estreito mundo
não o compreende.
São lunáticos?
Irracionais?
Bêbados?
Os poetas são mesmo
adoradores da lua...
extravagantes na entrega
e embriagam-se
dos mais raros sentimentos
para despejá-los a sua volta.
Porque poetas
nunca se preocupam
com sua dor.
Só querem
transformar em mágica
a vida do outro.

Nunca mais

Moço,
se eu morrer de amor,
me deixe aqui.
Perto da imensidão da lua.
Tão nua.
E nunca mais sua.

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Aos meus filhos

Hoje, confesso, tive um ataque de ciúmes. Não do tipo passional. Mas do tipo completamente emocional. Por um momento, cercada de filhos, fiquei extremamente, digamos, com uma puta dor de cotovelo. Ok. Engoli em seco, fui pra casa, tirei meia hora de sono, não-tranquilo. Acordei, abracei minhas gatas e pensei: é... sou uma péssima mãe. Danou-se. E eu, que me sentia the best pela manhã, desisti dos meu planos de diversão pra noite. Acordei no meio da tarde, limpei a caixa de areia de Flora e Nina e liguei a tv. Pensei. Ana, porra, você não pode chorar. Sabe o que acontece, mulher. São cinco dias de cara, digamos, escrota. Engoli em seco, fiz meu queijo quente com suco de uva ( orgânico), me acomodei nas almofadas. Nina e Flora, com as antenas ligadas, captaram: a mulher não está normal. Foram para o outro quarto. Verdade. Instinto é foda. Caralho, não posso ficar assim. Vou apurar ( pensamento de todo jornalista que nasceu jornalista). Liguei, desabafei. Um dos meus filhos falou: está com ciuminho é? Mas a gente está sempre com você, mãe. Não fique assim! E explicou tudo com a mais pura lógica. E eu, engolindo o choro, entendendo tudo, me sentindo uma tola-louca, ri. Em poucos segundos, me senti a mais feliz das mães e orgulhosa de sentir que não há caminho mais real do que ser a gente mesmo.

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Filtro dos Sonhos

Não pendure
meu coração na janela.
Ele não é mais seu.
Já cansou.
Não quer mais
ficar, assim, jogado ao vento,
como a roupa velha
que seca no varal.
Meu bem,
acorde,
desta vez não lhe dei, apenas,
um filtro dos sonhos.

Que eu durma feliz

Se acordei agora
pouco importa.
Amasso mesmo
a cara
no travesseiro.
Já se foi o tempo
que investi em
máscaras de pepino,
hortelã, tomate, alecrim,
mel e centeio.
Nossa,
são rugas a mais?
Quem disse?
Chineses ou japoneses?
Meu bem,
eu quero é dormir feliz.
De bruços, de lado,
com alguém,
sem ninguém.
De qualquer jeito.

Sem bagagem

Meu amor,
sinto tanto...
Mas não há mais caminho.
Deixe lá fora
tudo que carregou.
Venha,
traga a bagagem de mão
e entre sozinho.

Nua

Tenho um medo absurdo
de morrer sozinha,
caída
na cozinha.
Ou tentando abrir
a porta da rua,
do banheiro.
Como minha tia,
minha mãe,
minha avó.
E me vejo
ainda aqui,
culpada.
Com todo meu cansaço
carrego um fino elo.
O seu abraço.
Não, eu não nasci
sem fim.
Sou alguém
pendurado ao seu pescoço.
Moço,
se eu morrer de amor,
me deixe aqui.
Perto
da porta da rua,
da cozinha,
da imensidão da lua.
Tão nua.

sábado, 24 de agosto de 2013

Acorda, Lampião!

Por momentos
me derreter.
Manteiga de garrafa.
Ser livre
da sina
dos que me querem
sempre
Maria Bonita.
Guerreira.
Acorda, Lampião.
Tudo que quero
é café com pão.

Tão só

Para ser feliz
é preciso abrir mão.
Deixar.
Despir-se de esperas.
Seguir, calado, assim,
cálido entardecer.
Ser menos infeliz
requer recursos.
Pagar remédios, analistas.
Gritar,
invadir espaços
endurecer.
A liberdade
chama tão baixinho
como um afagar
de cabelos.
Gestos que fazem
alguém ir.
Sozinho.

domingo, 14 de julho de 2013

Eu me rendo

Há tempos 
não via seu rosto.
Mesmo assim, 
encolhi minhas asas. 
Humildemente,
me rendi. 
E é claro, 
seu falo cruzou minhas pontes, 
chupou os meus montes,
lambeu pedaços 
deixados por mim. 
Sou fonte, bagaço, caroço. 
Um traço, início, amasso.
Seu passo, meu fim.

sexta-feira, 12 de julho de 2013

Teu

Quando suas mãos
algum dia
pentearem meus cabelos,
não diga nada.
Apenas encaixe
seu corpo no meu.
Diga adeus,
até breve,
eu sou teu.


sexta-feira, 5 de julho de 2013

De tão longe

Você acha tão fácil manipular
que até desaprendeu.
Alguns, meu caro,
são intransponíveis
e se torna impossível, até,
mandar flores.
Fala sério.
Compor um fado,
dançar um tango argentino
é nostalgia?
Vai, prepara um prato,
estende a toalha xadrez
e, quem sabe, consiga
um sorriso de lado.
Estou perdida na noite,
entre colcheias,
cavalgo.
Fiquei tão longe,
agora,
que me perdi.
Você nunca
me fez mar,
muito menos
terra ou sonho.
Porque não quis.
O mais triste,
nem tentou.
Quem sabe
a gente não teve
uma chance.
Seu tonto.






sexta-feira, 28 de junho de 2013

Noturno

Deitei
e me cobri
de partituras.
Acordei, assim,
engasgada em som,
debruçada em letras
rascunhadas pela noite.
E me sinto
protegida
por uma espécie
de anjo-poeta
que encosta toda noite
suas asas
em mim.

Mariposa

Sou mariposa
em busca de luz.
Este é meu caminho.
Sigo o brilho
que atrai o meu corpo.
Quando o encontro
traço uma espécie
de ritual.
Todo meu.
Sou inseto,
bruxa,
borboleta.
Voando em círculos
entrego minha alma.
E nada mais
importa.
Escolhi, meu bem,
o meu fim.

sábado, 22 de junho de 2013

Assombro

Seu descaso
não vai
engolir
meu querer.
Minha falta de jeito
me fez refém
e você saiu, assim,
incólume.
Estou aqui
e declaro
seu desamor.
O que me faz
levantar o queixo
é  puro medo.
Não se iluda.
Não sou
tão forte assim.
Engulo em seco
toda vez
que dobro a esquina
e vejo
minha sombra
na parede.
E me assombro
com o mundo
que se abre
tão perto de mim.

sexta-feira, 21 de junho de 2013

Tão longe

O que me arrasta
em semi colcheias
é  puro enfado.
O resistir.
Triste fardo, persistir.
E ninguém uniu as fontes.
Mundo sem liga,
sem interfones.
Batendo a porta,
sem ser ninguém,
sou mero insone,
um ser errante
longe de ti.

Jogo

Se nunca pedi
fidelidade,
o que é que houve?
O que é que há?
Sou pé no chão, esqueceu?
Me descarte em qualquer curva.
Pra quem duvidar,
nada aconteceu.
Você deu as cartas.
Por pura sorte
o azar é seu.

sábado, 15 de junho de 2013

Blues

Se a vontade
fosse soberana
estaria em seu colo,
ouvindo um blues
e tudo o mais
que você quisesse
dizer.
Blues é alma.
É volta pra casa.
Alma plena.
A vida é curta,
densa
como a noite
ou o sol.
Questão de escolha.