Sem nós

Sem nós
O que me prende a ti não são laços. Talvez, nós.

sábado, 20 de dezembro de 2008

Pobres sapatilhas

Quando menina
a vida em sapatilhas
mais tarde esquecidas
puídas,
jogadas no lixo
de qualquer lugar.
Apenas um desejo
que se esvai na neblina do tempo
nos atalhos e descaminhos.
Sem rodopios ou saltos
a quase bailarina
lembra a sua história
tão longe e incômoda.
Quando em pontas
o palco era seu futuro
mas nunca foi
seu destino.

Era pra ser a dois

A festa é para poucos
Você o convidado especial
Mesmo sem roupas de grife
Sem sorriso nos olhos
Ou flores nas mãos.
Acendi as velas
Perfumei a sala
Sentei no sofá
Esperei
E a música não começou.
Mas guardei tudo do pouco
Os pingos de vela na mesa
O vidro de essência que perfumou a sala
E a vontade derramada no sofá.
Se é o que você quer
Então apague seus escritos
Feche sua portas
Escureça as janelas
Algeme suas mãos.
Prometo não bater na sua porta
Mas espero....
Que você ouse com novos escritos
E a vontade estampada na boca
Você é o convidado especial
Dessa festa que é mesmo para poucos...

Cristais

Da noite,
apenas vestígios de nós dois
Restos no prato e na cama
migalhas e almofadas
pelo chão.
A urgência da febre
não tem analgésicos.
As mantas que cobrem meu corpo
sãos as mesmas que usamos
juntos.
E, agora, minha pele arde
sozinha.
Triste momento
que o destino
escreveu.
Não resta mais nada
a não ser a entrega
a pensamentos hostis
arrepios pelo corpo,
nervos estilhaçados
e fibras esticadas ao limite.
Mas não sou de entregar os pontos
me recosturo inteira
com os mais finos acabamentos.
Enquanto você espera
me ver em frangalhos
apareço com a mais linda veste.
Feita de cristal.
Presentes dados
pela mãe terra
tirados do mais profundo
leito
do Planalto Central.

Entre lençóis e moringas

O acordar
se torna mais belo
a cada manhã
em que me sinto
abrigada e acarinhada
entre palavras
e lençóis de algodão.
E o primeiro gole d'água
que bebo com mais vontade
escorre por toda minha boca.
E é intensa a vontade
de sorver até a última gota
o líquido que você me oferece
em gigantescas moringas
cheias até o topo.

Passos de um tango

Quero colar o meu rosto no seu
Como num tango argentino
Quero a música que nunca tocou
E que só imagino
Passos marcados
Corpos calados
Palavras no ar
Toda vontade
Guardada no peito
E que escorre
Em poros abertos
Se é choro ou chuva
Não sei
Mas lava e acalma
E surgem pedaços
Que formam mosaicos
Que unem as dores
Amores antigos
Que ficam gravados
E enfeitam a sala
Onde ouço a música
Que imagino
Passos marcados
Corpos colados
E toda vontade
Guardada no peito